segunda-feira, 31 de março de 2014

a flor de maio, rubem braga

Transcrição de uma crônica que está no livro "Para Gostar de Ler - Volume 2"

A Flor de Maio

Entre tantas notícias do jornal - o crime do Sacopã, o disco voador em Bagé, a nova droga antituberculosa, o andaime que caiu, o homem que matou outro com machado e com foice, o possível aumento do pão, a angústia dos Barnabés - há uma pequenina nota de três linhas, que nem todos os jornais publicaram.
Não vem do gabinete do prefeito para explicar a falta d’água, nem do Ministério da Guerra para insinuar que o país está em paz. Não conta incidentes de fronteira nem desastre de avião. É assinada pelo senhor diretor do Jardim Botânico, e nos informa gravemente que a partir do dia 27 vale a pena visitar o Jardim, porque a planta chamada "flor-de-maio" está, efetivamente, em flor.
Meu primeiro movimento, ao ler esse delicado convite, foi deixar a mesa da redação e me dirigir ao Jardim Botânico, contemplar a flor e cumprimentar a administração do horto pelo feliz evento. Mas havia ainda muita coisa para ler e escrever, telefonemas a dar, providências a tomar. Agora, já desce a noite, e as plantas em flor devem ser vistas pela manhã ou à tarde, quando há sol - ou mesmo quando a chuva as despenca e elas soluçam no vento, e choram gotas e flores no chão.
Suspiro e digo comigo mesmo - que amanhã acordarei cedo e irei. Digo, mas não acredito, ou pelo menos desconfio que esse impulso que tive ao ler a notícia ficará no que foi - um impulso de fazer uma coisa boa e simples, que se perde no meio da pressa e da inquietação dos minutos que voam. Qualquer uma destas tardes é possível que me dê vontade real, imperiosa, de ir ao Jardim Botânico, mas então será tarde, não haverá mais "flor-de-maio", e então pensarei que é preciso esperar a vinda de outro outono, e no outro outono posso estar em outra cidade em que não haja outono em maio, e sem outono em maio não sei se em alguma cidade haverá essa "flor-de-maio".
No fundo, a minha secreta esperança é de que estas linhas sejam lidas por alguém - uma pessoa melhor do que eu, alguma criatura correta e simples que tire desta crônica a sua única substância, a informação precisa e preciosa: do dia 27 em diante as "flores-de-maio" do Jardim Botânico estão gloriosamente em flor. E que utilize essa informação saindo de casa e indo diretamente ao Jardim Botânico ver a "flor-de-maio" - talvez com a mulher e as crianças, talvez com a namorada, talvez só.
Ir só, no fim da tarde, ver a "flor-de-maio"; aproveitar a única notícia boa de um dia inteiro de jornal, fazer a coisa mais bela e emocionante de um dia inteiro da cidade imensa. Se entre vós houver essa criatura, e ela souber por mim a notícia, e for, então eu vos direi que nem tudo está perdido, e que vale a pena viver entre tantos sacopãs de paixões desgraçadas e tantas COFAPs de preços irritantes; que a humanidade possivelmente ainda poderá ser salva, e que às vezes ainda vale a pena escrever uma crônica.




Rubem Braga morreu em 1990 em terras cariocas. Original do ES, foi um dos cronistas mais bem quistos da literatura brasileira. 


sexta-feira, 28 de março de 2014

pitaco #23 - fernanda young

ou Sobre O Livro que Prova que Ana Cristina Cesar Estava Certa Quando Disse Que Arte É Tudo Aquilo O Que Nos Tira Da Inércia.

Nome: Tudo que você não soube (ou O Livro Mais Triste do Mundo)
Ano: 2007
De quem: Fernanda Young

A lucidez é uma loucura. Quando você consegue olhar pra sua vida e enxergar onde você estava certo, onde podia ter feito outra coisa; quando você consegue olhar pro seu presente e falar o que precisa ser feito pra que as coisas deem certo; quando você sabe como magoar alguém e o faz porque esse alguém merece: esse tipo de lucidez enlouquece.


E a escritora do livro que está escrito em "Tudo que você não soube" é tão lúcida quanto somos todos. Mas a sua linha entre lucidez e loucura completa se atenua a cada linha.

quarta-feira, 26 de março de 2014

adélia prado, amor em forma de mulher

Na última terça-feira, dia 24 de Março de 2014, a romancista, novelista e poeta Adélia Prado participou do programa Roda Viva, da TV Cultura. A entrevista foi demais. Incrível. E todo mundo devia assistir.

Na banca: Augusto Nunes (o de sempre), Ana Weiss (jornalista cultural da revista IstoÉ), Rosélia Aguiar (biógrafa e jornalista literária), Fabrício Corsaletti (colunista do Folha de SP e poeta - autor do lindíssimo poema "Esquimó"), Paulo Werneck (curador da FLIP e editor da Cosac Naify e da Cia das Letras) e Ubiratã Brasil (jornalista do Estado de SP).

"Não acredito que a tristeza seja o motor da poesia. Uma pessoa não escreve poesia porque é triste, ou porque é alegre. A poesia vem de um outro lugar que inclui tristeza e alegria. Mas essa não é a condição pra escrever nenhuma obra, porque nenhuma obra, ainda que nascida da tristeza, por ser poética - por ser arte -, é bela: e a beleza é alegria pura."




Adélia Prado, sim senhor! God save the queen of brazilian poetry! ;)

segunda-feira, 24 de março de 2014

rory gilmore reading project #4 - on the road

Nome: On The Road - Pé Na Estrada
Ano: 1957
De quem: Jack Kerouac

Em "On The Road", acompanhamos alguns anos na estrada da vida de Sal Paradise (na minha edição, este personagem chama-se Jack Kerouac) e Dean Moriarty (na minha edição, Neal Cassady): dois viajantes eremitas que saem na estrada sem destino, sem objetivo e sem preocupações.



“Se você não sabe pra onde está indo, qualquer estrada vai te levar pra lá."

domingo, 16 de março de 2014

pitaco #22 - clarice lispector

Nome: Perto do Coração Selvagem
Ano: 1943
De quem: Clarice Lispector

Ao citar um livro que li da Clarice, caio na tentação (e acabei de ceder à ela) de não nomeá-la no conjunto nome-sobrenome. Isso, porque "Clarice Lispector" soa não mais como nome da autora, mas como uma nominação para 70% das citações que viajam internet afora.


Apesar disso, a aventura de tentar citá-la, descrevê-la ou explicar o enredo de seus livros é ainda maior do que a tentação de chamá-la apenas de "Clarice". Em "Perto do Coração Selvagem", nos traz pra dentro da mente e da alma de Joana, uma menina que, no início do livro, causa estranhamento por sua mania incomum de cansar de brincar e criar poesias.

segunda-feira, 10 de março de 2014

rory gilmore reading project #3 - alice's adventures in wonderland

Nome: Alice's Adventures in Wonderland (Alice no País das Maravilhas)
Ano: 1865
De quem: Lewis Carroll

Um clássico da literatura infantil escrito no século dezenove. Cheio de simbologias, entrelinhas e personagens subjetivos, este livro divide opiniões quanto ao seu conteúdo. 





domingo, 9 de março de 2014

pitaco #21 - alice munro

Nome: Dear Life (Vida Querida)
Ano: 2012
De quem: Alice Munro

Esse é o último livro da autora, que já publicou outras 13 obras. Na contracapa dessa edição da Editora Vintage, transcreveram um trecho de uma resenha no "Daily Telegraph": "Amantes da sua escrita devem esperar que este não seja, de fato, seu grand finale. Mas, se for, é espetacular."


Primeiro livro da autora que li e, mesmo assim, ao terminar o livro, lamentei sua "aposentadoria" do meio literário.

sexta-feira, 7 de março de 2014

[vídeo] por que você lê?


Pra gente pensar um pouco no porquê a gente lê o que lê. Nas consequências que aparecem na nossa vida por causa dessas leituras. E pra gente pensar também no que aquilo o que lemos desperta na gente. :)

(devaneios depois de um dia de trabalho. Vídeo sem edição, tô descabeladíssima e com a cara amassada, mas prest'enção só no que tô falando, faz favor! rs)