Nome: Perto do Coração Selvagem
Ano: 1943
De quem: Clarice Lispector
Ao citar um livro que li da Clarice, caio na tentação (e acabei de ceder à ela) de não nomeá-la no conjunto nome-sobrenome. Isso, porque "Clarice Lispector" soa não mais como nome da autora, mas como uma nominação para 70% das citações que viajam internet afora.
Apesar disso, a aventura de tentar citá-la, descrevê-la ou explicar o enredo de seus livros é ainda maior do que a tentação de chamá-la apenas de "Clarice". Em "Perto do Coração Selvagem", nos traz pra dentro da mente e da alma de Joana, uma menina que, no início do livro, causa estranhamento por sua mania incomum de cansar de brincar e criar poesias.
Começamos o livro conhecendo uma tarde da personagem: ela brinca, estuda, cria poesias e se entedia. Cansa de brincar. E chora, porque está entediada. Vai pra escola. Pergunta: "ser feliz é para se conseguir o quê?". E continua a vida.
Com as palavras certas escritas com a delicadeza de um conta-gotas, Clarice desmancha a mente e os pensamentos de Joana como quem abre o peito pra confessar algo que lhe é incômodo - talvez desconhecido. As ideias, dúvidas e devaneios da personagem se tornam o enredo da história, não apenas parte dele.
O livro é permeado por ideias (o que quase nunca é uma boa), por vezes um tanto difusas e inconstantes, mas sempre infelizes. Infelizes, porque a felicidade a estatiza e ela tem necessidade de dar vazão aos sentimentos e pensamentos que moram, vivem e se fundiram à ela.
Por ter sido escrito aos 19 anos da autora, sentimos uma influência um tanto quanto adolescente: se prestar atenção, você consegue perceber a áurea de invencibilidade. Joana não precisa de ninguém. Todos que a conhecem precisam dela.
Segui estas ideias peculiares com resguardo. Resguardo, porque as coisas que se tornam passíveis de acontecimento pela mente da Joana são doloridas. Resguardo, porque, pelas ideias da personagem, todos somos maus e vivemos passando um pano nos nossos desejos em nome da moral, da ética, do medo. Resguardo, porque podemos fazer qualquer coisa. O que está nos parando?
Ler Clarice é um desafio, um evento, uma dor. Uma sucessão de facadas na boca do estômago: e o esfaqueador parece estar sorrindo.
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A Lispector tem um dom de nos fazer lê-la e olhar para dentro de nós mesmos a fim de nos encontrarmos como um todo. Ela é surreal!
ResponderExcluirOBS: Fiz um blog recentemente. Espero tua visita nele: http://resenhasdebrupax.blogspot.com.br/ :*
Sim, com toda certeza... É um tanto quanto perturbador rs
ExcluirObrigada =) Vou dar uma olhada. Beijo! :*