sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

poesia: anna akhmatova

Vinte e um. Segunda- feira. É noite! 
No escuro uns contornos de cidade. 
Algum vagabundo escreveu 
que na terra pode haver amor. 

E por tédio ou preguiça, 
todos acreditaram e assim vivem: 
esperam encontros, temem adeus 
e cantam canções de amor. 

Mas a outros revela-se o enigma, 
e o silêncio repousará sobre eles... 
Descobri isto por acaso 
e desde esse momento sinto-me mal. 




 Anna Akhmátova foi uma poeta ucraniana do século XIX, que viveu na Rússia e escreveu sobre ela. Sofreu censura durante 20 anos, quando foi tradutora de grandes clássicos da literatura (como livros do Victor Hugo). Morreu em 1966.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

post especial: caio fernando abreu (e por que você deveria lê-lo)

Creio que a literatura, assim como toda forma de arte, serve pra nos fazer respirar ares diferentes por entre nossa própria mente. De uma, de outra ou de todas formas, usamos, constantemente, os livros pra fugirmos de alguma coisa. E foi em uma dessas fugas que encontrei Caio.

Caio que, na época, foi um trabalho da escola. Sobre a seguinte discussão: existe o pós-modernismo? Se sim, o que foi e quem se enquadra nas características?

Fui pessimamente mal na tentativa de discutir estas questões. Sou péssima em tentar teorizar o sentimento - seja ele qual for. Li Caio pra esta pesquisa, mas me esqueci de ler com os olhos de estudante depois de três linhas. Descobrir que ele havia morrido também foi outro martírio a parte - sobretudo porque ele morreu no ano que nasci.

Pois bem, aqui vai: 9 (porque 18 vai exigir muitas linhas) razões pra você lamentar os 18 anos sem Caio Fernando de Abreu.

1_ Ele foi amigo e inspirou pessoas como Adélia Prado, Ana Cristina Cesar e Cazuza. Adélia, que ele lia quando estava triste (hábito que eu adquiri por osmose); Ana, cuja morte foi chorada inúmeras vezes antes de acontecer, de fato; Cazuza, que o inspirou e foi inspirado por ele, num meio-que-romance que nunca foi muito certificado por nenhum dos dois - nem negado.

2_ "Hoje quero escrever qualquer coisa tão iluminada e otimista que, logo depois de ler, você sinta como uma descarga de adrenalina por todo o corpo, uma urgência inadiável de ser feliz. Ser feliz agora, já, imediatamente. E saia correndo para dar aquele telefonema, marcar um encontro, armar um jantar, quem sabe um beijo; para comprar aquela passagem de avião, embarcar hoje mesmo para Nova York, Paris, Hononulu. Tão revigorado e seguro – depois de me ler – que nada, absolutamente nada, dará errado: ela (ou ele) atenderá com prazer (em todos os sentidos) ao seu chamado, haverá saldo no banco para a passagem e muitos dólares. Tudo se organizará rápida e meio magicamente, como se todos os astros e todos os deuses só esperassem por um momento seu para derramar sobre sua cabeça, digamos, uma cornucópia de bem-venturanças." (em uma crônica de jornal)

3_ Olha essa carinha, gente.



4_  "O Brasil não precisa de escritores, o Brasil precisa de arroz e feijão."


5_ "Fique bem, please. Paciência — é preciso ter infinita paciência. Olhar meigo para tudo & todos. Humildade, decência, recato & pudor. A um passo da santidade." (trecho de uma carta, contida no livro "Cartas")

6_ “Não quero lembrar. Faz mal lembrar das coisas que foram e não voltam. No começo fiquei com raiva, achei que ela não pensou em mais ninguém quando desapareceu. Só nela mesma. Mas a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros. Ela queria outra coisa” (trecho de "Onde Andará Dulce Veiga", que falei aqui)

7_ "e enquanto falas e me enredas e me envolves e me fascinas com tua voz monocórdia e sempre baixa, de estranho acento estrangeiro, penso sempre que o mar não é esse denso escuro que me contas, sem palmeiras nem ilhas nem baías nem gaivotas, mas um outro mais claro e verde, num lugar qualquer onde é sempre verão e as emoções limpas como as areias que pisamos, não sabes desse meu mar porque nada digo, e temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças,mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba nem assim nem agora nem acaba nem assim nem agora nem aqui ......................................................................................." (trecho do conto "à beira do mar aberto", do livro "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso")

8_ “Daquele tempo nem tão distante, daqueles dias que até hoje duram às vezes duas, às vezes duzentas horas, restou esta sensação de que, como eles, também me vou tombando rápido dentro da boca de um vulcão aberto sem fôlego nem tempo para repetir como numa justificativa, ou oração, ou mantra, enquanto caio sem salvação no fogo que é verdade, que si, que no, que nadie puede mismo vivir sin amor.” (metâmero de "Ovelhas Negras")

9_ 



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

trecho: alcione araújo


A única coisa que tem é a arte de cantar que Deus deu. Mas nem sei se isso é profissão. Porque arte, o Senhor sabe, além da beleza, não serve para nada. Também não se ganha quase nada, meu Cristo. São palmas e palmas, mas fazer o que com as palmas? Palma, se hoje tem, amanhã não tem. Nem sei por que as pessoas metem na cabeça de ser artista. Sabe, meu Cristo, eu tenho medo do futuro. O tempo vai passando, se hoje está difícil, amanhã o que vai sobrar? Enquanto esse carro está andando, dá a impressão de que alguma coisa boa pode acontecer na próxima cidade, na próxima semana, no próximo mês. Com o carro andando, há um resto de esperança. É quase nada, mas com ela a gente vai vivendo. Porque, no fundo, a gente acredita que, ao virar a próxima curva, tudo vai ser diferente, o mundo vai ser melhor. mas depois de um acurva vem outra curva, e em cada cidade que a gente chega tudo é igual às outras que estivemos. A gente roda, roda, e o mundo é sempre igual. Uma hora dessas isso vai parar de andar. O que vai sobrar de tudo isso?

Trecho de "Pássaros de Voo Curto", do Alcione Araújo.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

pitaco #20 + por que assistir: v de vingança

Nome: V de Vingança
Ano: 1988
De quem: Alan Moore e David Lloyd


EUA, anos 80. O roteirista Alan Moore convida o quadrinista David Lloyd para ajuda-lo na criação de um projeto encomendado. A ideia era criar um quadrinho de suspense, mas eles foram muito além disso. Tomando clássicos culturais (Orwell e Huxley são citados nesta lista) (David Bowie e Robin Hood também) como inspiração, Alan e David criaram um símbolo revolucionário: Codinome V.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

por que assistir: a mais bela dama

Nome original: My Fair Lady
Ano: 1964
Direção: George Cukor (ele também dirigiu aquele "Nasce uma Estrela")
No IMDb: 7,9/10 estrelas
No coração da Gi: 8,5/10 estrelas 
Elenco pra você prestar atenção: Audrey Hepburn (a de Bonequinha de Luxo), Rex Harrison (do Doutor Dolittle) e Wilfrid Hyde-White (esse cara aqui).


Baseado numa peça do grande George Bernard Shaw, My Fair Lady venceu o Oscar de 1964 como melhor musical.



Ela fala errado. Vende flores. Grita. Não tem boas maneiras. Não se enquadra na high society.

Ele é professor. Culto. Inteligente. Astuto. Clara e altamente competitivo - e, por isso, aposta que transformará a moça supracitada em uma dama de alta sociedade. Em seis meses.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

rory gilmore reading project #2 - the great gatsby

Nome: The Great Gatsby (O Grande Gatsby)
Ano: 1925
De quem: Francis Scott Fitzgerald 

Um romance de 140 páginas que te transporta pros anos 20, no auge do American Dream e do Jazz. 



F. Scott Fitzgerald nos mostra duas figuras antagônicas: Nick Carraway, o narrador, que tem uma vida comum, sem muitos luxos; e Jay Gatsby, que vive n'uma mansão exuberante, bancada por um dinheiro que ninguém sabe de onde veio.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

poesia: cecília meireles

Desamparo

Digo-te que podes ficar de olhos fechados sobre o meu peito,
porque uma ondulação maternal de onda eterna
te levará na exata direção do mundo humano.

Mas no equilíbrio do silêncio,
no tempo sem cor e sem número,
pergunta a mim mesmo o lábio do meu pensamento:

quem é que me leva a mim,
que peito nutre a duração desta presença,
que música embala a minha música que te embala,
a que oceano se prende e desprende
a onda da minha vida, em que estás como rosa ou barco...?








Poema de Cecília Meireles, que morreu em 1964, no Rio de Janeiro, onde nasceu. 



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

pitaco #19 - boris vian

Nome: A Espuma dos Dias
Ano: 1947
De quem: Boris Vian


Este livro é um clássico da literatura. Considerado tão importante para os jovens franceses quanto o "O Apanhador no Campo de Centeio" é para os de língua inglesa, "A Espuma dos Dias" traz uma história de romance surreal, poética e surpreendente.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

tag: livros opostos

Por que você deveria ver esse vídeo: fiz uma vinheta. EDITEI o vídeo (porque eu falei muita besteira na gravação e tava sem tempo de regravar rs). Tô gravando de frente pros meus livros. Aprendi a mudar a fotinha do YouTube. Eu cito livros muito bons. E, sobretudo, eu penteei o cabelo. BANG.



Informações:


Criada pelo Bruno Miranda, do minha estante: http://youtube.com/user/minhaestante

Eu citei esses livros e estes são seus textos, aqui no blog:


- "noite em claro", da Martha Medeiros: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....

- "o segredo e outras histórias de descoberta", da Lygia Fagundes Telles: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....

- "paris, 98!", do Mario Prata: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....

- "Drácula", do Bram Stoker: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....

- "o colecionador de lágrimas", do Augusto Cury: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....

- "persuasão", da Jane Austen: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....

- "onde andará Dulce Veiga?", do Caio Fernando Abreu: http://cabeceiradebolso.blogspot.com....


Até a próxima! :-)

Skoob Twitter Blog de crônicas, contos e blablablás. | Pra seguir o blog. | Youtube

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

por que assistir: sociedade dos poetas mortos

Nome original: Dead Poets Society
Ano: 1989
Direção: Peter Weir
No IMDb: 8/10 estrelas
No coração da Gi: 25/10 estrelas (rs ♥)
Elenco pra você prestar atenção: Robin Williams (o Robin Williams, pô), Ethan Hawke (que fez NY, Eu Te Amo) e Robert Sean Leonard (O Wilson, de House).


Um colégio interno só para meninos. Muitas regras. Uma postura ditatorial. Disciplina. Esse é o pano de fundo para a história de "Sociedade Dos Poetas Mortos".


pitaco #18 - luiz felipe pondé

Livro: Guia Politicamente Incorreto da Filosofia - Ensaio de Ironia
Ano: 2012
De quem: Luiz Felipe Pondé

Eu não tinha nada contra o autor, mas, depois de ler este livro, não ser (nem parecer) com ele se tornou uma das minhas metas principais de vida.


Falando desse jeito, dou a entender que é um livro ruim. Aqui está minha ressalva: não é. Não somente. É um livro que precisa ser lido com cuidado, analisado pelas entrelinhas e estudado com coerência, para não se deixar cair nos argumentos muito bem estruturados, mas completamente preconceituosos dentro de suas tentativas de corretices (de correto rs). 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

pitaco #17 - lygia fagundes telles

Livro: O Segredo e Outras Histórias de Descoberta
Ano: 2012
De quem: Lygia Fagundes Telles

Não sei falar sobre livros que gosto. Não sei falar sobre livros de contos. Este foi um livro de contos que gostei.

Os 5 contos foram escritos sob a mesma ótica de crianças descobrindo coisas novas. A perspectiva de descoberta é sempre difícil de descrever, mas a Lygia o faz de uma forma tão leve que, em alguns momentos, me perguntei até onde aquilo não havia sido presenciado por ela.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

pitaco #16 - ana cristina cesar

Livro: Poética
Ano: 2013
De quem: Ana Cristina Cesar

Ana C. vivia de palavras. Sua construção poética é tão pessoal que eu tive a impressão de que, ao lê-la, seus amigos sentiriam algum tipo de incômodo por saberem tão fundo de alguém com quem conversam cotidianamente.


No decorrer do livro, percebi que me enganei: devia ser impossível "conversar cotidianamente" com Ana Cristina Cesar.