terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

post especial: caio fernando abreu (e por que você deveria lê-lo)

Creio que a literatura, assim como toda forma de arte, serve pra nos fazer respirar ares diferentes por entre nossa própria mente. De uma, de outra ou de todas formas, usamos, constantemente, os livros pra fugirmos de alguma coisa. E foi em uma dessas fugas que encontrei Caio.

Caio que, na época, foi um trabalho da escola. Sobre a seguinte discussão: existe o pós-modernismo? Se sim, o que foi e quem se enquadra nas características?

Fui pessimamente mal na tentativa de discutir estas questões. Sou péssima em tentar teorizar o sentimento - seja ele qual for. Li Caio pra esta pesquisa, mas me esqueci de ler com os olhos de estudante depois de três linhas. Descobrir que ele havia morrido também foi outro martírio a parte - sobretudo porque ele morreu no ano que nasci.

Pois bem, aqui vai: 9 (porque 18 vai exigir muitas linhas) razões pra você lamentar os 18 anos sem Caio Fernando de Abreu.

1_ Ele foi amigo e inspirou pessoas como Adélia Prado, Ana Cristina Cesar e Cazuza. Adélia, que ele lia quando estava triste (hábito que eu adquiri por osmose); Ana, cuja morte foi chorada inúmeras vezes antes de acontecer, de fato; Cazuza, que o inspirou e foi inspirado por ele, num meio-que-romance que nunca foi muito certificado por nenhum dos dois - nem negado.

2_ "Hoje quero escrever qualquer coisa tão iluminada e otimista que, logo depois de ler, você sinta como uma descarga de adrenalina por todo o corpo, uma urgência inadiável de ser feliz. Ser feliz agora, já, imediatamente. E saia correndo para dar aquele telefonema, marcar um encontro, armar um jantar, quem sabe um beijo; para comprar aquela passagem de avião, embarcar hoje mesmo para Nova York, Paris, Hononulu. Tão revigorado e seguro – depois de me ler – que nada, absolutamente nada, dará errado: ela (ou ele) atenderá com prazer (em todos os sentidos) ao seu chamado, haverá saldo no banco para a passagem e muitos dólares. Tudo se organizará rápida e meio magicamente, como se todos os astros e todos os deuses só esperassem por um momento seu para derramar sobre sua cabeça, digamos, uma cornucópia de bem-venturanças." (em uma crônica de jornal)

3_ Olha essa carinha, gente.



4_  "O Brasil não precisa de escritores, o Brasil precisa de arroz e feijão."


5_ "Fique bem, please. Paciência — é preciso ter infinita paciência. Olhar meigo para tudo & todos. Humildade, decência, recato & pudor. A um passo da santidade." (trecho de uma carta, contida no livro "Cartas")

6_ “Não quero lembrar. Faz mal lembrar das coisas que foram e não voltam. No começo fiquei com raiva, achei que ela não pensou em mais ninguém quando desapareceu. Só nela mesma. Mas a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros. Ela queria outra coisa” (trecho de "Onde Andará Dulce Veiga", que falei aqui)

7_ "e enquanto falas e me enredas e me envolves e me fascinas com tua voz monocórdia e sempre baixa, de estranho acento estrangeiro, penso sempre que o mar não é esse denso escuro que me contas, sem palmeiras nem ilhas nem baías nem gaivotas, mas um outro mais claro e verde, num lugar qualquer onde é sempre verão e as emoções limpas como as areias que pisamos, não sabes desse meu mar porque nada digo, e temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças,mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba nem assim nem agora nem acaba nem assim nem agora nem aqui ......................................................................................." (trecho do conto "à beira do mar aberto", do livro "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso")

8_ “Daquele tempo nem tão distante, daqueles dias que até hoje duram às vezes duas, às vezes duzentas horas, restou esta sensação de que, como eles, também me vou tombando rápido dentro da boca de um vulcão aberto sem fôlego nem tempo para repetir como numa justificativa, ou oração, ou mantra, enquanto caio sem salvação no fogo que é verdade, que si, que no, que nadie puede mismo vivir sin amor.” (metâmero de "Ovelhas Negras")

9_ 



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