domingo, 23 de fevereiro de 2014

pitaco #20 + por que assistir: v de vingança

Nome: V de Vingança
Ano: 1988
De quem: Alan Moore e David Lloyd


EUA, anos 80. O roteirista Alan Moore convida o quadrinista David Lloyd para ajuda-lo na criação de um projeto encomendado. A ideia era criar um quadrinho de suspense, mas eles foram muito além disso. Tomando clássicos culturais (Orwell e Huxley são citados nesta lista) (David Bowie e Robin Hood também) como inspiração, Alan e David criaram um símbolo revolucionário: Codinome V.

Ambientado numa Londres distópica apenas 10 anos afrente do lançamento da HQ, os habitantes desta cidade são vigiados 24h/dia por seus governantes. A política (a politicagem, melhor dizendo) é o assunto principal. Um povo desinformado, prostituição, drogas, testes abusivos em seres humanos, vigilância exacerbada e rigorosa e muita, mas muita corrupção são os primeiros problemas que avistamos na sociedade criada.

O partido que está no poder prometeu melhoras trabalhistas quando chegou ali. Prometeu melhorar salários e condições de vida (tudo aquilo o que sempre é prometido), mas a única coisa que fizeram foi melhorar o governo para seu próprio luxo. Quem comesse do mesmo arroz, se dava bem. Quem não estivesse na faixa dos beneficiados, sinto muito – e se tentar reclamar, ah, se tentar reclamar...

Os funcionários são todos públicos e sujeitos às avaliações temporais sobre seu desempenho, que deve estar em constante crescimento. Caso contrário, é demitido, despejado de sua casa e sabe-se lá para onde vai, o que comerá e como viverá.


“V” é [um adendo para a minha hesitação ao descrevê-lo] anti-herói. “Anti”, porque vai contra o governo. “Anti”, porque não se sabe quais são suas reais intenções. “Anti”, porque Vingança não é algo muito heroico – ou isso depende? Vivi, com este personagem, uma relação de amor e ódio paradoxalmente do começo ao fim do quadrinho.

Em contrapartida, com Evey, uma menina de 16 anos que é salva por “V” nas primeiras páginas do quadrinho, tive um sentimento muito próximo de compaixão. Algo entre isto e a empatia. Não sei dizer. Ela é forte, mas inocente e esperançosa. Quando não está crendo no inacreditável, se prende em confianças arriscadas e se submete a situações desnecessárias.


No decorrer da história, conhecemos outros personagens a fundo. As técnicas de “dominação” de “V” são estranhas: ele expõe, humilha e mata pessoas que julga serem más. Até descobrir quais são seus planos e a origem de tanto desejo de vingança, o leitor se sente num paradoxo moral (e os autores transpassaram esse sentimento para Evey de uma forma genial): se “V” é bom, por que mata pessoas? Se as pessoas são más, isso justifica os assassinatos?

Preciso admitir que, em meu pouco conhecimento de histórias do gênero, senti uma pitada de Clube da Luta no fim da HQ. Não existe de fato uma revelação de quem seja V – tudo é muito subjetivo (e isso não é um spoiler). Por um instante, achei que aconteceria algo meio Tyler. E isso está ainda mais impregnado na minha cabeça depois que terminei de ler a entrevista que vem no final do quadrinho. “Eu tinha a intenção de, a partir deste ponto, revelar a verdadeira identidade de V, mas infelizmente não sobrou muito espaço. A única dica que posso dar é que V não é o pai de Evey, a mãe de Whistler ou a tia de Charley. Daí por diante, você está por contra própria. Inglaterra triunfa.”, diz Alan Moore (roteirista).

•••

Nome original: V for Vendetta
Ano: 2005
Direção: James McTeigue  
No IMDb: 8,2/10
No coração da Gi: 9/10
Elenco pra você prestar atenção: Natalie Portman, gente. Natalie Portman.



No filme de 2005, dirigido pelo McTeigue, que também dirigiu Matrix (de '99 e de 2003), o quadrinho é seguido fielmente. Faz pelo menos um ano desde que revi o filme pela segunda vez, mas arrisco dizer que boa parte dos diálogos são idênticos aos originais.

A cenografia do filme é incrível. Souberam recriar com precisão e detalhamento a Galeria das Sombras, lar de “V”, que é cheia de simbolismos, obras de arte, uma jukebox (SO PUT ANOTHER DIME IN THE JUKEBOX, BABY, I LOVE ROCK’N’ROLL... rs Desculpa xD), muitos e muitos livros... Não parece ter sido um cenário fácil de criar, mas o fizeram com tanta maestria que lembro de ter ficado impressionada com a beleza das cenas na Galeria.

Além da beleza dos cenários (prometo que não vou mais usar essa palavra), preciso parabenizar os roteiristas e o diretor, que conseguiram unir um quadrinho incrível com atores excepcionais.

Natalie Portman é uma atriz incrível: além de linda, ela veste a personagem com tanta destreza que você se sente tocado pelos medos e impressionado com a garra de Evey no decorrer do filme. Ela chora, mata, grita, faz cara feia e arrisca, exatamente como é a personagem do quadrinho; mas com o adendo básico de que é a Natalie Portman.




Saldo final: Assista, porque é uma história sobre política. Porque a Natalie Portman raspou a cabeça de verdade pra gravar esse filme. Porque os takes são incríveis. Porque a biblioteca do “V” é linda (juro). Porque é um filme relativamente curto que vai te fazer grudar os olhos na tela durante toda a duração. Mas, sobretudo, assista porque "V" é uma ideia. E:


Ideias são a prova de balas.

Até a próxima! ;-)

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2 comentários:

  1. Oiee ^^
    Adoro esse filme ♥ estou querendo comprar o livro, mas acho o preço dele um pouco salgado *-*
    MilkMilks
    DM
    Milkshake de palavras

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    Respostas
    1. Também gosto muito do filme... A HQ é sensacional também <3

      Oh, peguei a HQ numa liquidaçãozinha da FNAC... Vira e mexe fica em promoção... Paguei 20 dilmas e já recebi propaganda dele por 14!! rs Sou a rainha do garimpo! rs

      Beijo e 'brigada pelo comentário! ;)

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