Ano: 1947
De quem: Boris Vian
Começa nos apresentando quatro personagens: Colin, Chick, Nicolas e Alise. Colin é um bon-vivant de vida tranquila. Ele é um grande amigo de Chick, viciado em Jean-Sol Partre (qualquer semelhança não é mera coincidência! rs) e namorado da Alise, que ele conheceu numa conferência do Partre. Temos Nicolas, o cozinheiro de Colin, além de ser seu amigo pessoal. Depois, o narrador quase reticente nos apresenta mais duas personagens: Isis, futuro amor de Nicolas; e Chloé, a paixão que Colin pediu aos céus.
"- Queria te ajudar... O que devo fazer?...
- É horrível - disse Colin. - Estou ao mesmo tempo desesperado e terrivelmente feliz. Nesse ponto, é muito agradável ter vontade de alguma coisa.
- Eu queria - continuou ele - estar deitado na grama meio queimada, com a terra seca e sol, sabe, grama amarela que nem palha, estalando, com com uma porção de bichos e musgo. A gente se deita de bruços e olha. Não pode faltar uma sebe com pedras e árvores retorcidas e folhinhas. Faz um bem danado.
- E a Chloé? - disse Chick.
- E a Chloé, naturalmente - disse Colin. - A Chloé na cabeça."
A narrativa é cheia de críticas. Logo de cara, você nota uma severa ao intelectualismo. Nicolas (o cozinheiro) é irmão de Alise. Ela é professora e é mal vista na família, enquanto Nicolas, por fazer um trabalho braçal, é o orgulho.
No decorrer, notamos certa acidez na visão de Colin pelo trabalho: ele julga que os trabalhadores são seres robotizados. Por que devem trabalhar se existem máquinas que o fazem?
Uma coisa que se nota logo nos primeiros capítulos é que, além do cenário e dos hábitos absurdamente surreais, temos um imediatismo muito presente. Não há um desenvolvimento para as coisas, tudo acontece muito rápido e qualquer coisa que fuja deste padrão é considerada muito longa, comprida, demorada. Num determinado momento da história, Colin lê uma carta de amor vinda de um livro e Chloé, ao ouvi-la, pergunta "Por que é que é tão grande? As coisas geralmente são menores...".
A criação desses ambientes ilusórios e utópicos é a fonte da grande quantidade de humor do livro. Existem coisas que, ao ler, pensei "puxa... isso bem que podia existir..." rs Caminhando pela rua, Colin vê numa vitrine um anúncio de um jeito mais fácil de perder a barriga: passando o ferro para que ela fique "lisa".
A casa de Colin, descrita no início como colorida, espaçosa, alta, ensolarada, cheia de artigos espalhafatosos e vibrantes de decoração se torna pequena, estreita, escura e sem graça quando, subitamente, Chloé descobre que tem um nenúfar (uma flor-de-lótus) crescendo em seu pulmão direito. O tratamento é caro, trabalhoso e o amor de Colin não diminui: a atmosfera do romance, entretanto, passa de colorida e feliz para extremamente introspectiva, angustiante e triste.
É um livro de leitura rápida, mas cheio de detalhes nos quais você deve prestar atenção para apreciar ao máximo a obra de Boris Vian. Ele brinca com as palavras e cria diversas expressões (como cheiros visíveis e um piano que faz drinks de acordo com o que você toca) que causam certo estranhamento no começo, mas depois se mostram usuais e ajudam a compor esse livro que, além de ter uma capa linda, carrega uma história encantadora.
"- Escuta, Chick, te dou um quarto do meu dinheiro e você vai poder viver com tranquilidade. Vai continuar a trabalhar e, desse jeito, vai dar tudo certo. - Jamais vou conseguir te agradecer o suficiente - disse Chick.
- Não me agradeça. - disse Colin. - O que me interessa não é a felicidade de todos os homens, mas a de cada um."
Ouça enquanto lê:
Até a próxima! ;)
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