terça-feira, 21 de janeiro de 2014

pitaco #15 - julie maroh

Livro (HQ): Azul É A Cor Mais Quente
De quem: Julie Maroh
Ano: 2010

*** gravei um vídeo sobre esta HQ, clique em MAIS INFORMAÇÕES para assisti-lo ***

Uma história de amor que tinha tudo pra cair no clichê, mas vai muito além. Se não tivesse sido escrita tão recentemente, eu diria que foi a inspiração pra música “Só tinha de ser com você”, do Tom Jobim.



 É, só eu sei
Quanto amor eu guardei
Sem saber que era só pra você
(...)
É, você que é feita de azul
Me deixa morar nesse azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonita demais
Se ao menos pudesse saber

Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim



Narrado pelos diários da Clementine, "Azul é A Cor Mais Quente" é um romance iniciado quando a personagem principal ainda estava no primeiro ano do colegial. Cheia das dúvidas remanescentes à época, Clem se vê perdida quando descobre que o mocinho mais bonito do colégio quer sair com ela: e ela não tem o menor interesse nisso.

As coisas ficam ainda piores pro seu subconsciente quando ela começa a sonhar com uma menina de cabelos azuis. Cheia de verdades incertas e cansada de mentir pros amigos, Clementine aceita sair com Valentine, seu único amigo que insiste em dizer que está tudo bem gostar de uma menina. Eles vão a um bar gay e lá Clementine revê a moça dos cabelos azuis: Emma

O pouco tempo de conversa no bar foi o suficiente para deixá-la ainda mais encantada com aquela mulher que, diferente dela, já tinha tantas certezas: universitária, artista e em um relacionamento sério de dois anos.

Apesar de todas as diferenças, no dia seguinte Emma visita Clem na saída da escola, o que causa muitos burburinhos pelo colégio. Estamos na França dos anos 90, bem no meio dos protestos a favor dos casamentos igualitários - estes, que a extrema direita conservadora sempre foi contra.



O traço da autora é lindo, imponente, forte, expressivo. No começo da história, você vê a pequenez e as dúvidas de Clem em seu olhar. No decorrer, você vê a maturidade, a alegria, as certezas. 

A história conta o ciclo do relacionamento das duas que, como tudo na vida, tem começo, meio e fim - mesmo que não da forma como esperamos.

Dei cinco de cinco estrelas e é, decerto, uma das histórias de amor mais lindas que já li na vida.

Vale a pena se você gosta de amores bonitos, de sensibilidade, emoção e realidade no que lê. Se você não gosta de quadrinhos, dê uma chance para este. Eu, que não leio HQ desde Mauricio de Sousa, fiquei apaixonadíssima.

•••

Esta HQ foi adaptada pro cinema pelo diretor (cujo nome é IMPRONUNCIÁVEL) Abdellatif Kechiche e tem uma média de 8,1 estrelas no IMDb (o que é uma média altíssima, se você for considerar as médias do site). O longa tem quase três horas de duração e ganhou diversos prêmios de atuação, direção e cenografia no ano passado. 



Algumas coisas foram mudadas na história, além do nome da personagem principal: era Clementine e virou Adèle. Enquanto, na HQ, o enfoque é o relacionamento das duas, como elas crescem juntas em todos os aspectos e como isto as aflige e ajuda; no filme há um enfoque maior no relacionamento delas em suas individualidades, na relação delas com o mundo externo e na constante: "na vida, se perder é se encontrar".

As duas atrizes tem atuações impecáveis e fazem da experiência do filme algo ainda mais impactante e penetrante. A cenografia e os diálogos ajudam ainda mais. O azul está presente em quase todas as cenas no início do filme e vai se esvaindo a medida que o relacionamento vai esfriando: azul é a cor mais quente, sim?

Em uma palavra? Excepcional.

Adendo: no francês original, este filme chama-se "A vida de Adéle - Capítulo 1 de 2". Será que teremos continuação por aí? Hm. Isso traria a história completa da HQ pro cinema. Estou no aguardo. rs

Até a próxima! :-) 


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